Creditava ao olhar profundo, aquele em que se mergulha na alma e com (c)alma, à profusão do desejo. Evitava olhá-lo então, desde que se conheceram, a fim de evitar os dissabores que como incauta experiente reconhecia ali, numa antevisão de futuro. Os olhares distraídos, nunca encontrados, davam certa tranquilidade a uma inquietação que quase não aparecia. Os olhares distraídos, encontravam-se, em horas de descuido e arrancavam sorrisos. Até que os olhares não mais estavam distraídos, mas se procuravam, como uma ante câmara do desejo. Desejos, paixões. Essa coisa humana a ser evitada, evitando contato, evitando toques, evitando um ao outro. Hoje, os olhares não mais inquietam e nem incomodam; hoje, os olhares não refletiam desejos. Os olhares deixam apenas ver o cinza das nossas horas e desejos relegados ao passado, recente, mas passado. As minhas dores, o seu toque, uma brincadeira de dedos se cruzando no ar para identificar o local da dor. Talvez ali, naquele ar, identificamos a dor e voltamos aos nossos silêncios, aos nossos olhares que não precisam mais se esconder ou fugir, as nossas palavras não ditas de encontros e desencontros. A vida segue. Creditava então, às palavras, o encerramento dessa correspondência (sempre) incerta.
segunda-feira, 19 de setembro de 2016
domingo, 4 de setembro de 2016
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