do menino João, de todos os sertões
do homem Mau-Tempo, de todo antagonismo social.
Se João pudesse realizar seus sonhos
antes do tempo roubar-lhe a juventude,
dos seus desejos tão próprios à idade,
a percorrer caminhos do trabalho expropriado.
Se a Mau-Tempo, pudesse contornar à este homem,
que mal desponta o sol destas bandas, desperta.
retorna já depois do sol poente, roubando
os interstícios de sua idade que se esvai como a brisa.
Se ao menino, eu pudesse conservar os seus sonhos
dar-lhe, aos seus encantos, todos os cantos do mundo
colher de seu olhar, o brilho da juventude
dos seus sorrisos, a sinceridade dos desejos primeiros.
Se ao homem, eliminar as rugas do tempo tão precoce
dar-lhe os direitos do gênero humano,
colher, com seus braços e suor a base material necessária,
nem menos, nem mais, apenas o suficiente
do mais, alimentar o espírito, o prazer, a ventura.
Deste menino homem, neste mundo capital
restam-lhe o Mau-Tempo de suas angústias de menino
sobre as exigências do adulto João e suas responsabilidades.
Do homem menino, na vigente sociedade
sobram-lhe os sonhos de João, tão próprios a sua imensidão
cerceadas pelo Mau-Tempo das brincadeiras em mundo tão arredio.
Do que não ouso falar,
do amanhã vindouro, sempre esperado, a tanto procurado
dos [des]cantos do mundo, de João, de tantos Mau-Tempos
da luta tão remediada, tão custosa aos homens meninos
fazendo, irremediavelmete, de tantos outros, meninos homens
Do que não ouso falar,
de João Mau-Tempo, em terra brasilis, nos sertões do mundo
do menino homem, em cada canto dos encantos que me fascina
de João, tão menino ainda, tantos sonhos que nunca serão cumpridos
de Mau-Tempo, de sol a sol, num esperar do amanhã vindouro...
Ouso dizer, ainda, uma vez mais
da imprescindível luta pela liberdade dos meninos e dos homens,
superar o mau-tempo das barbáries capitais,
ceder os sonhos e as conquistas aos Joãos deste mundo
fortalecer, com os homens, o Bom-Tempo de sua vida livre e comum.
Ouso dizer, como quem cala a alma
o silêncio contido nos olhos do homem menino
Ouso dizer, à alma que cala
os urros de incontidos desejos do coração do menino homem
Não ouso dizer, dos encantos que os abraços me fizeram
da amargura, de tão pouco que me cabia, retribuir aos braços da labuta."
[O termo utilizado para o poema, João Mau-Tempo, é o nome da personagem
descrita por Saramago, em Levantado do Chão.
É, também, uma homenagem ao João Mau-Tempo que conheci e tão breves momentos,
deram-me luz a algumas reflexões acumuladas...]
-----------------------
Agradeço, também, a visita de todos. =)
Nenhum comentário:
Postar um comentário