[Imagem: Fabian Perez] |
Quando
estou sóbria, evito te escrever coisas emotivas. Disfarço perguntando do seu
dia, do seu trabalho, se isso ou aquilo, esporadicamente, como se fosse algo normal,
corriqueiro, como se eu não precisasse saber dos seus dias, das suas noites,
das suas estórias, das suas estórias inventadas, das suas estórias exageradas,
das suas estórias repetidas, da sua voz, do seu pensamento, do seu ar. Quando
estou bêbada, eu insisto no velho erro de perguntar algo esporádico e responder
com sínteses de todo esse afeto que me transborda em poucas palavras: você é
único. Para sua felicidade e a minha sobriedade posterior, a operadora de telefonia continua
a mesma porcaria e dá erro no envio. Fingo não ter mandado a mensagem, você
na ignorância da mensagem que não recebeu entre outras sem nexos, graças ao
(des)corretor do celular. Mas hoje estou sóbria, estou tão sóbria que sinto dor
até nas minhas sinapses. E eu só queria me perder nas suas estórias, para cair
nos seus braços, e olhar nos seus olhos, a noite inteira. Guardar o seu sono.
Vigiar o seu sonho. Amar, em silêncio. Amar, abraçando o seu peito, abraçada ao
seu peito. Até eu me sentir segura, ainda que na corda bamba do que fomos, sem
saber que éramos já o que não pensamos que seriamos e hoje que não falamos que fomos.
Hoje estou sóbria, hoje estou ébria e posso te escrever. Mas te escrevo sob um pseudônimo,
numa página que você jamais tomará conhecimento, porque o objetivo dela é ser
uma correspondência incerta; assim, como o amor. Mas queria que você soubesse
que eu te amo, até mesmo na minha negação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário